Foi ontem que tudo aconteceu.
De novo.
Queria dizer-lhe que estou morrendo de saudade. Devo me conter? Acalmar o coração?
'Sim.' - diz a razão.
Um perfume, um momento, uma imagem. Me perco em devaneios.
'Mas não é hora' - palpita de novo a razão.
Um coração curioso se revolta: 'E quando é hora?'
Esse músculo bombeia mais sangue e trabalha mais duro quando eu vivo um momento assim.
Confusa, a massa pensante silencia.
E então vem o suspiro pra apaziguar - 'Calma. Mais um convite e verás.'
'Será?' - me pergunto.
'Não importa, estarás lá perto. Pra quê se exaltar?'
Coração perdido, ansioso. Puto.
Cérebro teimoso, culto. Burro.
Suspiro que suspira. Suspira a ponto de faltar ar de tão profundo. E o que fazer?
De leve, uma tristeza. Sem razão. Razão? Tristeza? Coração? Suspiro que me remete a respirar. Respirar e ocupar a mente com algo qualquer.
Água e Óleo: não se misturam. Meu eu ocupado; meio ocupado com qualquer coisa...
... mas, escondido, pensando em você.
Das idéias vem as realizações, das grandes realizações as imagens marcantes e, de todas as grandes marcas, um rabisco, um esboço, um rascunho.
29 agosto, 2015
LXXXI - O Que Você Quer Ser Quando...
Foi assim que o diálogo começou, meio que sem motivo, depois de um momento de silêncio proposital.
– O que você quer ser quando...
– Crescer? Já cresci. Já sou grandinho.
– Como você sabe?
– Aprendi a amar. Bem que poderia me perguntar o que eu quero ser agora que sei amar...
– Hmm... Então tá! O que você quer ser quando souber amar?
– Música.
– Músico?
– Não! Música mesmo. Músico eu já sou.
Foi assim também que o diálogo acabou e foi assim que o silêncio brando veio de novo, dando vez apenas ao som da brisa morna que vinha das bandas de lá.
Bem provavelmente, você deve estar se perguntando meu motivo de querer ser música e para saciar tua curiosidade, leitor, deixo a ti a minha explicação:
Eu quero ser música pra poder penetrar por teus ouvidos e invadir tua mente com as palavras que passei anos estudando. Criar uma sentença com a combinação perfeita para convencê-la de que sou eu...
Eu quero ser música para entoar eu teu coração os bemóis e sustenidos menores que aprendi especialmente para musicar aquelas palavras dali, que passaram por aqui de forma coerente aos meus poemas.
Quero ser música para que entre escalas pentatônicas e cromáticas, harmônicas e diatônicas, eu possa significar um universo egoísta onde somente eu possa te hipnotizar, te derreter, te desconcentrar de lá e te concentrar pra cá, te manipular com a leveza que só eu, música, poderia fazer.
Quero ser música para que entre escalas pentatônicas e cromáticas, harmônicas e diatônicas, eu possa significar um universo egoísta onde somente eu possa te hipnotizar, te derreter, te desconcentrar de lá e te concentrar pra cá, te manipular com a leveza que só eu, música, poderia fazer.
Quero ser música, para envolver-te em minhas teorias musicais, orquestradas, à capela ou mono-instrumental onde teu modo de existir tem um só significado para mim.
Significado de um tema único chamado "Você".
LXXX - 7 Parágrafos Sobre Você
Ainda é cedo, diga-se de passagem, mas o sinal da sintonia é tão forte que poderia ser tarde se não expressada agora.
Risos de uma noite fria, no aconchego de um lugar comum, sem as graças de luz de velas, de uma lareira ou um piano entoando notas suaves à meia luz.
Ela, que ainda é mistério, parece ter me traduzido centenas de versos de um idioma até então desconhecido. Iluminando um lado obscuro, que antes era traduzido em sombras.
Amor? Paixão? Acredite, não! Mas uma sintonia daquelas que não se pode explicar porquê esteve recolhida por tanto tempo.
Boa sensação. Uma sensação de liberdade, livre pra expressar qualquer coisa sem retaliação.
Tua energia, ainda que misteriosa, transcende-se em prazer e calor. Assuntos fluem, idéias surgem e combinam, mais do que isso, se idealizam e realizam.
Do sete em diante, só o amanhã poderá dizer. Não há como descrever. Entenda que este aqui será um etcétera seguido de reticências que sugerirá novos parágrafos para esta publicação.
Do sete em diante, só o amanhã poderá dizer. Não há como descrever. Entenda que este aqui será um etcétera seguido de reticências que sugerirá novos parágrafos para esta publicação.
LXXIX - Visco Arterial
"Eu quero é me apaixonar, preencher o vazio daquele que vasculariza meu corpo, amolecer o ressecado de tuas veias e aquecer o visco e frio rubro líquido que, sem escolha, tem que por lá passar."
LXXVIII - Boa Noite
Não vá sem dizer boa noite. A conversa está tão boa que não aceito você dizer que cochilou e não acordou mais.
"Ao sair feche a porta." - Não é assim que se diz por aí?
Pois bem. Não saia sem dizer boa noite. Feche a nossa porta antes de partir.
Não me importo que vá. Apenas me deseje boa noite.
Boa noite é um desfecho que automaticamente me desperta o sono. Sem ele, divago em pensamentos nus e sem sentido, na esperança de mais uma mensagem. Mesmo que essa seja um seco boa noite perdido em meio a um vasto silêncio de meia hora.
Perguntas porquê eu não me ocupo com outra atividade durante as pausas antes do tão indesejável e esperado boa noite.
Então respondo que estou farto da comédia fraca da TV, da pornografia fácil e gratuita e do noticiário, o qual já sei até em que ordem serão reprisadas.
Dos pernilongos, já cacei a todos. Alguns com sangue, meu ou não, outros magros que degustaram da morte ainda com fome. A eles já dei meu boa noite.
Agora, só falta o teu. Ansioso aguardo. E para você que anseia do boa noite que tens direito, aqui, logo abaixo desta linha, poderás encontrar o meu.
Boa noite.
LXXVII - B-Day - As Histórias de Minha Vida
"Um dia a mais é um dia a menos."
Então venha Morte, faça tuas contas e me some de novo por aí.
Por aqui eu me subtraio com honra e dignidade, com responsabilidade e glamour a vida que me fora dada. Celebro este negativo, assim como todos os outros já negativados.
Venha morte ao meu encontro, sei de tua ansiedade para esse dia. Imagino o quão parco deve ser tua experiência desse teu lado. Tão parco que és obrigada a ouvir que "a Morte vive da vida dos outros".
Não sei se isto se torna enfadonho aos teus olhos, mas por agora não é digna essa resposta para o meu saber. Por enquanto, venha, não desanime, faça tuas contas. Minha hora vai chegar e com prazer, ei de encontrar-lhe feliz. Contar-te tantos anos subtraídos aqui, me faz querer viver ainda mais.
"Carpe Diem" é o que dizem por aí. Clichê ou elementar, é assim que vou me subtraindo. E a cada dia que subtraio, me faz ainda mais feliz saber que, feliz lhe farei ao justificar tua espera por mim.
Imagino em teu semblante um sorriso largo ao ouvir os contos dos meus dias vividos. No chá da tarde, no almoço ou na janta, companheira que será, contar-lhe-ei todas as desventuras e aventuras da vida que me fora dada.
Não sei o motivo dos que a temem. Ver-te sentada em uma cadeira de balanço, com vossa foice acomodada em uma parede qualquer, ao som das músicas que aprendi a ouvir me parece agradável e gratificante. Mais uma vez, o sorriso largo em teu semblante paira em minha mente.
Mas não sofra de ansiedade, tudo tem seu tempo. Mantenha-te calma e conte. Minha hora há de chegar e quando chegar, não hesitarei em seguir-lhe até teus aposentos, acomodar-me, assim como tu e começar a narrar-lhe as histórias de minha vida.
LXXVI - Natural Matinal Que Me Atrai
Essa coisa do natural matinal que me atrai.
O rosto amassado, cabelo revirado,
Pijama roto, velho e abarrotado.
Ah! Essa coisa do natural matinal.
A preguiça que finda o expediente e não faz hora extra.
A ternura sem batom nem blush, sem esmalte nem sombra
Nem sombra de dúvidas que o cheiro da pura essência, do suor da sua noite
Também vem concatenada com essa coisa do natural matinal que me atrai.
Assim é que tem que ser
Assim é que se conhece alguém.
Na transparência de tua existência.
Do sorriso tímido à torção de teu corpo em nossos lençóis
Toda essa ausência de máscaras te torna ainda mais bela e tenra
E do meu tato à sua pele, ainda a macia e sedosa que conheci
Boceje essa beleza, espreguice essa fonte natural
E é isso que me atrai: O seu natural matinal.
LXXV - A Flor
Avistei! A mais bela simples flor com o mais completo perfume. Pequena, frágil e cheia de graça. Me encantou em primeira vista.
E foi dessa que eu quis plantar. Comecei do princípio, da semente. Levei pro meu jardim pra poder me dedicar e ver florescer.
Plantei e cuidei, até que finalmente o primeiro broto saiu. Sorri! Saltei em alegrias em ver aquele pontinho verde espiando para o mundo, espiando para mim!
Enchi me de esperanças e sorria todos os dias pra ela.
Cultivava, cuidava e cresceu mais um tantinho assim. Mostrou me as primeiras folhas, que apareciam como se quisesse me dar um abraço!
Animava-me em vê-la crescer, mas parou. Não quis mais crescer, também não quis murchar.
Queria meu abraço, e eu lhe dava. Queria um carinho, e eu lhe dava. Estagnou ali, sem flor, sem graça, sem delicadeza nem perfume.
O que será que houve? O que será que há? Me dói no peito ver que pareces desanimada. Um dia eu hei de saber?
LXXIV - Não Me Deixe Sonhar Sozinho
Não me deixe sonhar sozinho!
Santos Dumont sonhou que podia voar, e voou.
Thomas Edison sonhou que podia fazer luz artificial, e ofez.
Graham Bell sonhou que podia falar com alguém a milhares quilômetros de distância, e falou.
Vladimir Zworykin sonhou que podia fazer imagens aparecer em movimento dentro de um tubo de vidro, a TV.
Timothy John Berners-Lee sonhou que podia jogar informações numa nuvem virtual, e hoje temos a internet.
E eu? Sonho também. Todos os dias sonho em tê-la ao meu lado, sonho na magnitude em que a qualquer momento a terei. Mas sozinho, meu sonho não avança.
Vem sonhar comigo, vem?
LXXIII - Um Cara Chamado João
Um João, ou Jão, como dizem pejorativamente por aí. Quantos Jãos você conhece?
Sempre conhecemos um e ele nunca é o mocinho da história. Também não é vilão. É um Jão! Secundário que é, não opina, não muda, não soma nem subtrai. Multiplica, talvez, em muitos outros Jãos.
Mas isso é generalizando. Eu conheci um Jão que conseguiu em alguns minutos neutralizar uma nação. Sim, neutralizar. Tornar neutra toda uma nação. Tudo em teoria, eu acho.
Foi em uma canção que Jão escreveu algo que faz qualquer um parar pra pensar, mesmo que por poucos instantes. Ela diz como seria se...
Tá certo que no fim das contas, pra variar, Jão não fez nada além disso. Não mudou a nação, não virou herói. Virou ídolo, talvez, mas não pra todos, afinal, um planeta é formado por gregos e troianos, e por isso não podemos agradar aos dois.
Mas ele fez a parte dele e depois disso, partiu. Partiram com ele. Era Jão, não era?
Não sou muito bom de memória, mas me lembro mais ou menos de algumas coisas que ele disse:
Feche seus olhos e imagine que não existe paraíso, nem inferno, só o céu.
Imagine todas as pessoas vivendo para o hoje, sem se preocupar com amanhã.
Imagine não existir países, nada pelo que matar ou morrer.
Já pensou se não tivesse nenhuma religião também?
Imagine todas as pessoas vivendo a vida em paz, já pensou?
Você deve achar que sou um sonhador, não é?
Mas não sou o único, tenho a esperança de que um dia você também pense assim!
E aí o mundo será como um só.
Continua imaginando, agora não existir posses, luta por terras.
Será que você consegue imaginar isso? Difícil né?
Sem necessidade de ganância ou fome, sabe?
Uma irmandade do Homem!
Imagine todas as pessoas compartilhando todo o mundo. Seria bom demais...
Essas são algumas das palavras que o João disse. Será que faz sentido pra você?
*O texto citado acima é uma adaptação livre feita para esse texto, baseada na letra original da música Imagine, escrita porJohn Lennon.
LXXII - A Fábula
Amuou. De repente parou de cantar e eu, preocupado reservei 10 minutos do meu tempo para conversar com ele.
- O que há de errado meu pequeno tesouro? Andas tão amuado que amuas também meu coração. -
Dizer-te o que há, não irá livrar-me desta tristeza, mestre. Mas se abriste mão de teu precioso tempo para aqui estar, direi-lhe então. - suspirou e continuou - Lembra-se o pássaro amarelo que pousara em minha gaiola? Livre e solto? Feliz e cantador?
Antes que eu dissesse que me lembrava, quis esquecer, quis ter certeza que poderia não ter visto, mas apenas apertei meus olhos e respondi positivamente com a cabeça
- Pois bem, - disse me o pássaro - conversamos sobre essa tal de liberdade e ele me contou tantas coisas boas que se faz lá fora, que perdi a vontade de cantar aqui dentro.
Você, leitor, que deve estar certo de ter lido isso em algum lugar, provavelmente o fez, e não diferente do que leu, atendi de pronto, embora profundamente deprimido, a abertura dos portões da liberdade.
- Vá, pequeno tesouro. Já vi incansáveis vezes essa história e não será eu quem irá mudá-la. Vá e seja livre. Seja você em seu mundo real. Eu já não posso mais...
- Cala-te, mestre! Não partirei.
- O que há de errado meu pequeno tesouro? Andas tão amuado que amuas também meu coração. -
Dizer-te o que há, não irá livrar-me desta tristeza, mestre. Mas se abriste mão de teu precioso tempo para aqui estar, direi-lhe então. - suspirou e continuou - Lembra-se o pássaro amarelo que pousara em minha gaiola? Livre e solto? Feliz e cantador?
Antes que eu dissesse que me lembrava, quis esquecer, quis ter certeza que poderia não ter visto, mas apenas apertei meus olhos e respondi positivamente com a cabeça
- Pois bem, - disse me o pássaro - conversamos sobre essa tal de liberdade e ele me contou tantas coisas boas que se faz lá fora, que perdi a vontade de cantar aqui dentro.
Você, leitor, que deve estar certo de ter lido isso em algum lugar, provavelmente o fez, e não diferente do que leu, atendi de pronto, embora profundamente deprimido, a abertura dos portões da liberdade.
- Vá, pequeno tesouro. Já vi incansáveis vezes essa história e não será eu quem irá mudá-la. Vá e seja livre. Seja você em seu mundo real. Eu já não posso mais...
- Cala-te, mestre! Não partirei.
LXXI - A Esperança
Me lembra muito um bichinho de estimação! A gente alimenta todos os dias, trata, faz carícias, brinca até cansar.
Assim como os bichinhos, não é racional, mas às vezes parece que pensa, leem nossos pensamentos, faz charme, interage como se estivesse falando conosco, mas de repente, sem motivo, ataca. Dói, machuca e deixa tristezas e mesmo assim, alimentamos-a.
Confesso que há dias que tenho vontade de abandonar na rua, deixar pra trás, mas acaba a vontade quando o desejo de alimentá-la predomina e isso me faz resistir.
Já ouvi tanta gente dizer que é verde, mas nunca vi cor, na verdade, não tem cor. Eu, particularmente, a visto de verde só porque cai bem, sabe?
E é engraçado como podemos com um único termo definir o lado bom e lado ruim de tê-la: "Ela é a última que morre."
LXX - Sabor do Clima
Você, branquela azedo, que pensou que ia sair da praia vermelho picante, vai ter que saborear o amargo cinza do nublado dos céus!
LXIX - Tô Tentando...
Tá mesmo? Qual seu conceito sobre tentar? Vai tentando... Continue tentando. Tenta ler o texto aqui, tenta?
O verbo "tentar", no meu ponto de vista é o verbo mais passivo que eu conheço. Não há maneira de tentar sem sequer executar algo. Não há como tentar sem um objetivo, um plano ou uma estratégia.
Quem tenta por tentar, está simplesmente adiando a própria evolução.
Observe bem, entre toda a tentativa e a execução, existe o "fazer", a ação.
Não entendeu? Faz um favor então: Coloque uma caneta à sua frente e agora tente pegar a caneta. Simples assim.
Tentou? Pegou?... Se você pegou, você já ultrapassou o limite da tentativa. Mas por alguns milésimos de segundos, você executou e planejou uma estratégia pra alcançar seu objetivo: Pegar a caneta.
Você não percebeu, mas nas dezenas de tentativas bem sucedidas você movimentou braços, dedos e desviou de obstáculos. E é assim que funciona.
Quer mudar a vida? Está tentando?... Está mesmo? Qual o plano? A estratégia?
Tentativa por osmose não funciona!
Leu?
Que bom, mais uma vez você ultrapassou o limite da tentativa! Agora, conte-nos qual o plano que você traçou para chegar até aqui. Aplique para seu dia a dia.
Ficar tentando aí parado não vai te levar a lugar nenhum. Só vai te manter tentando tentar...
24 agosto, 2015
LXVIII - Vitoria-Gasteiz
10:00.
A cidade desperta aos poucos ainda. Tempo úmido nesse local pacato. As árvores nuas ainda por conta das sequelas do inverno são o charme daquele momento junto com a vista das construções típicas e velhas dos vilarejos.
Bom para caminhar e divagar entre uma mista seleção de pensamentos sobre como a vida está agora com a realidade das imagens capturadas pelos meus olhos neste momento. Temperada com uma pitada do som suave da alma dali. Os velhos, as bicicletas, os sorrisos e mesmo a seriedade expressa na face dos residentes fazem todo esse remexido de itens se transformar dentro de uma mente livre de preocupações.
Ali, na rodoviária, compro meu bilhete e aguardo. Ainda divagando sobre ares e vidas, assim vou levando, na atmosfera daquela sensação pacata, sem me preocupar se amanhã...
Hora de partir para outro lugar, que não se trata do amanhã que pretendi por um instante citar.
10:30.
LXVII - Carnaval? O que há de tão mal?
E o que tem que é carnaval? Esse ódio pela data que todo mundo festeja e 'faz a festa'. Festa pagã? Festa dos arruaceiros, dos vagabundos, dos que não tem mais o que fazer? Daqueles que não tem cultura?
Desprenda-se desse mundo, olhe ali, daquele lado. Tá vendo? Presta atenção, tem gente ali admirando o carnaval na sua mais límpida forma de ser. Na sua raiz e inocência e veja, veja como eles riem, cantam e dançam!
As marchinhas, os blocos sem malícias, as amizades e os sorriso dos que sabem viver, dos boêmios cantadores.
Olha! Viu? Eles acabaram de se tornarem amigos! E sabe, acho que vai longe... Por que não?
Não faz mal que é carnaval, ele não é tão ruim quanto parece, ele não é só aquilo que passa na TV. Desliga. Vai ali ó. Olha que legal...
Dali não quero sair,
Dali vou extrair,
O que o bloco cantar,
Pra que eu possa também dançar!
LXVI - O Vinhedo / The Vineyard
Nota: Esta postagem está disponível em dois idiomas. O primeiro em português, o segundo, logo após este, em inglês, escolha sua versão e deixe seu comentário.
Note: This post is available in two idioms. The first one in brazilian portuguese, the second one, right after this, in english, choose your version and leave your comment.
Dizem que beber é bom pra esquecer, mas eu discordo. Eu, hoje, bebi para lembrar.
Beber, não qualquer coisa, mas vinho. Não qualquer vinho, mas o vinho que me lembra você. Desde a escolha até a abertura da garrafa, rotulada como safra de 2011. O ritual de degustação, ler o rótulo e aceitar, já no pequeno gole, ter o poder de aprovar ou reprovar, desde o giro da taça pra ver se as lágrimas são de alegria ou de tristeza e até mesmo o aroma, se é de frutas ou carvalho.
E se não for? Não quero! Precisa harmonizar com meu prato principal. Se não harmoniza, não serve!
E se for um bom vinho? Não interessa! Preciso fazer com que tudo sintonize; os aromas e o que minhas papilas gustativas esperam saborear, e só aquele vinho pode fazê-lo.
E sim, se for esse o vinho, antes mesmo de tocar meus lábios, já materializar-se-a somente pelo perfume você.
Agora tudo faz sentido, bebê-lo realmente me faz lembrar: A garrafa e o nosso toque, a rolha e o nosso olhar, sentir o aroma, assim como sinto o seu, rodeá-lo no copo, assim como rodeio-te por desejo de ter de você, todo seu perfume.
Ah, como é bom! A ansiedade para prová-lo de fato é tão ampla quanto a de te tocá-la. E nesse desejo incandescente de prová-lo, torturando me de propósito para que quando o faça, o sabor seja ainda mais intenso. Faço-lhe cair uma lágrima, assim como a que o vinho deixa na taça. Lágrima essa que expressa tamanha ternura e certa alegria.
Enfim, fecho meus olhos e tomo desta taça o líquido que te traz a mim. Degusto-o assim como degustei-a, como todo meu desejo em chamas e toda minha essência à flor da pele. Não basta sentir, tomá-lo torna-te real.
Por 750 ml, és tu que estás em meus lábios, um beijo e um momento de degustação, outro beijo, esse mais longo permite-me enrolar teu sabor dentro de minha boca, até que desça goela abaixo.
Um suspiro e outro gole e já estou totalmente envolvido em você até acabar e daí por diante, somente a cama vazia pode me abraçar.
E lá se foi você, antes mesmo do vinho, lá se foi você, deixando-me como convite a vontade de tomar-te de novo, em forma de vinho. Não de qualquer vinho, mas o vinho que me busca você.
Encontre mais no livro Rascunhos Vivos
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People used to say that drinking is good to forget, but I disagree. Today I will drink to remember.
Drink not just any wine, but the wine that reminds me of you. Since the picking up to the opening of the bottle labeled 2011 vintage. The tasting ritual, since reading the label and accepting, feeling the right to approve it or not, since the first sip, since swirling the wine to see if those are tears of joy or sadness, till the aroma, if it is fruity or oak.
And if it’s not the right one? I don’t want! It must harmonize with my main dish. If it doesn´t, it sucks!
And if it was a good wine? Doesn´t matter! Everything must tune like music - the taste and what my taste buds want to savor, and only that one wine can do it.
And if yes, if it was the right wine, before it touch my lips you will materialize just from the aroma of the wine.
Now everything makes sense. Drinking it really reminds me of the bottle and our touch, the cork and our looks. I feel the scent in the glass like I felt yours, swirling the wine like I surround you by the wish to smell it and smell your perfume.
Ah, how good is this! The desire to taste it in fact is as big as desire to touch you. And I’m torturing myself by purpose with this burning wish to taste the wine, till I decide to execute it and make the taste being even more intense. It is a taste that will make a tear fall from your eyes as the tear that wine lets on the glass. Tear that express great tenderness and some happiness also.
In the end I close my eyes and drink from the glass the liquid that brings me you. I taste it as I tasted you and my entire wish burn whole essence in my skin deeply. I don’t just feel it, drinking it turns you so real.
This 750ml is like you on my lips. A kiss and a moment of tasting, another kiss, this one is longer and let me curl your taste inside my mouth until it goes down my throat.
A sigh and another sip and I am already totally into you till the moment it’s over, and since now only an empty bed can hug me.
And there was you, even before the wine, there was you, inviting me to drink you again, like wine. Not any wine, but the wine that brings me you.
LXV - Sinopse do Filme de Minha Mente
O marcador do termômetro passeava entre 6 e 13 graus. Já estava na hora de acordar para desfrutar da beleza daquele lugar ainda desconhecido. Eu, ainda desprovido de blusas, sentia o frio na pele, mas lá, senti-lo naquele momento era sinônimo de elegância.
Entre galhos levemente secos e arbustos dotados de um amarelo incandescente, podíamos ver a chegada da linda primavera. Tulipas de todas as cores sorriam alegremente a cada dia que passei por lá. Arquitetura, ruas, avenidas, pessoas, comida. Tudo era diferente. O idioma, a cerveja e até a cultura.
Tudo tão diferente e tão igual ao mesmo tempo. Gente pobre e gente rica, tempo quente e tempo frio, parques grandes e parques pequenos e muita coisa que não se tem onde contar.
E foi isso, um breve lindo resumo de um filme da minha memória. A primeira vez a gente nunca esquece e melhor do que não esquecer, é querer voltar.
"Baseado em fatos reais."
"Polônia, de 28 de abril à 05 de maio de 2013."
LXIV - Depois do Blues
Já era mais de 2 da manhã. O Blues já havia terminado e as cervejas devidamente bebidas. Ainda na tontura do álcool e na adrenalina do Blues coloquei-me a caminho de casa.
Perdido em devaneios particulares, a fome me fez procurar por algum lugar. Queria pizza! Lembrava-me de um lugar que costumava ter uma ótima pizza e, mesmo um pouco fora da minha rota, saí em busca dessa delícia.
No ritmo do blues balançavam os semáforos entre suas cores, que por algumas vezes eram ignorados por mim. Na adrenalina do risco de morte ou de vida.
Chegando ao local, só eu acreditara que a padaria com aquela pizza estaria aberta naquele horário. Doce ilusão, agora, além de fome, a decepção e o sono também me rondava.
Aqueles três elementos misturados me trouxeram a depressão que só um blues poderia entender. Não havia solidão ou amor capaz que interpretar esse momento, e, mergulhado no meu sóbrio, fiz aquilo que todo blues faz de melhor: o improviso de um coração solitário.
Acendi o motor do meu carro, como se fosse uma chama de esperança que, atravessando a dança dos semáforos, me conduzira até a janela de alguém que eu já amara. Parei por ali e fiquei observando por uma eternidade, até que fui interrompido por algum vizinho de sono leve.
Toquei- me para casa, em busca de outro blues e outro improviso. E no caminho, cantei algo que a mistura dos desejos que eu tinha, fizeram minha mente criar:
“Se toda eternidade fosse curta assim, eternamente ficaria aqui, a observar qualquer coisa que não pudesse ver, improvisando em memória o que ensaiado deveria ser.”
LXIII - O Artista e o Cubo
O que eu admiro no artista é isso: "A capacidade de extrapolar o limite do cubo".
Eu, daqui de dentro, imagino como deve ser. Imagino que o artista pode ser ele mesmo fora do cubo, pode ser quem ele quiser dentro do cubo sem que ninguém saiba ou mesmo de propósito para que todos vejam.
Eu, pra variar, vejo o cubo uniformemente com seis lados, esteticamente calculado, estrategicamente numa vista isométrica, mas aposto que se eu perguntar como é o cubo para o artista, ele dirá que o cubo tem oito lados, ou melhor, me dará uma surpreendente resposta que uma mente incapaz de pensar fora do cubo, pensaria.
Dizem que o artista cria, mas eu penso que o artista apenas explora. Explora tão longe que aqueles que vivem dentro do cubo, pensa que é criação. É nada! Extrapolou o limite do cubo. Descobriu que o cubo pode ter muitos outros lados interessantes que o próprio cubo desconhece.
Eu tenho vontade de ser um artista, de repente um dia, quem sabe?
O artista é capaz de nos mostrar coisas que pensávamos saber de outra forma totalmente diferente. Alguns acham que é loucura, outros acham graça e os que acreditam, muitas vezes também experimentam o que é ser artista.
Artista pode expressar o que explorou através da dança, da música, do rabisco de desenho ou de uma pintura. Um artista é tão artista que pode explorar o próprio cubo e coloca-lo pra fora, ou trazer o de fora para o cubo em linguagem cúbica.
E eu, aqui dentro, vou tomando coragem pra ver o que tem lá fora. Nunca ouvi falar de artista que deixou de ser artista. Mas já vi quem não era se tornar. E aqui estou, observando e me encorajando, quem sabe?
E quer saber? Eu, neste cubo penso que o artista explore tão longe, mas nem deve ser tão longe assim.
LXII - Trevo de Quatro Folhas: A Gaita
Sorte! Após várias semanas caminhando sem destino e sem local para dormir, achei uma nota alta. Um simples papel que viera a calhar, afinal não comia bem há muito. Vislumbrado o dinheiro e caminhando, me deparei com uma enorme vitrine de instrumentos musicais.
Havia uma orquestra montada naquela vitrine. Instrumentos de cordas, sopro, metais, percussão, assim como deveria ser. Havia também uma gaita, dizia ser uma gaita em Dó. Lembrei-me de quando era criança e havia ganhado uma desses de Natal. Passei por ali por alguns momentos observando-a, vermelha e intensa, e esquecendo-me da fome, comprei a gaita.
Se arrependimento matasse, eu iria morrer, mas primeiro de fome. Ao fim do dia já não tinha força para nada e então arrumei alguns pedaços de papelão para montar a casinha daquela noite e já que a dor de estômago não me deixava dormir, resolvi finalmente dar o primeiro sopro em meu novo companheiro.
O som misturado com o sentimento improvisava um som que fazia minha fome ir embora e também trazia à minha mente uma ideia interessante. No dia seguinte, sentei-me no centro da praça daquela pacata vila e coloquei-me a tocar. As músicas improvisavam sorrisos aos que passavam e traziam moedas ao caneco que coloquei ali por perto.
E se a música move sentimentos, move a mim também. Foi assim que paguei pelo meu almoço antes de continuar minha jornada para lugar algum.
LXI - Museu de Artes
É só depois de adulto que percebemos como foi gratificante ser criança. Na adolescência, na maioria das vezes, desejamos que a infância nem tivesse existido. Pobre de nós. Mal sabíamos a dádiva que vivemos e daí, depois de “velhos”, iniciamos a fase da valorização, aquele momento em que as memórias que nos restou se transforma em valiosas peças de museu. É cobiçada como se ainda fosse ter serventia. Uma brincadeira, um vizinho, um melhor amigo da escola, as peripécias, os brinquedos, os vídeo games... Vídeo o que? Ainda há memórias de infância tão valiosas que nenhum tipo de tecnologia havia na época para fazer parte da história, mas são assim, tão valiosas como a minha, a sua, e de seus pais e avós.
É assim, às vésperas do dia e feriado de Nossa Senhora, o dia santo mesmo é o das crianças. Essa sim é a principal atração do mês. Seja ela comercial ou não, esse é o momento em que observamos esses pequenos e nos espelhamos neles para visitar nosso próprio museu de memórias.
Portanto, deixo a todos que visitaram o blog, um feliz dia das crianças. Relembre seus momentos e deixem-se viajar no tempo, assim como fazíamos quando criança, traga pelo menos por este mês o desejo de se jogar no chão e brincar. Aliás, faça como eu, brinque durante a vida, brincar, mesmo depois de grande, também é viver.
LX - Dejà Vu
Sentar-se na areia da praia e sentir a brisa que parece vir do mar é a sensação que eu mais gosto.
Sempre que o faço, quero que haja um dejà vu. Quero que se repita e me faça ter a sensação que já passei por isso, para que em meu coração acumule ainda mais o desejo de estar ali.
A brisa que bate em meu rosto pode ser eterna até que eu pegue no sono. O som que vem do mar parece ser o motor daquele conjunto de sensações inexplicáveis.
Tudo que acontece atrás dos meu olhos fica como um plano de fundo sem sentido. Um grito, um carro, um barulho de motor, um suspiro.
Nesse momento não desejo que o nascer do sol, não desejo a luz do luar e sequer o brilho das estrelas. Quero que fique como está: céu nublado, embora noite, ainda rosado demonstrando que a chuva está por vir, e se vem, que não venha enquanto eu espero pelo meu dejà vu.
Momento delicado e solitário. Não que estar sozinho nesse momento signifique solidão, apenas um momento de diálogo com um vento bom que fala em meus ouvidos, me conta segredos e me diz juras de algo que por instantes me faz sorrir, me faz lembrar que ali estou livre, apenas esperando pelo meu dejà vu.
LIX - Amar é...
Há quem diga que amar é ver o pôr do sol, há quem diga que é dançar na chuva. Tem os que dizem que amar é acordar com um dia ensolarado de domingo.
Pode ser que seja apenas uma questão de gosto ou opinião. Pode ser que só o fato de acordar ao lado de quem se ama seja o suficiente, ou de repente, nem dormir para aproveitar mais o tempo.
Pode ser que seja apenas uma questão de gosto ou opinião. Pode ser que só o fato de acordar ao lado de quem se ama seja o suficiente, ou de repente, nem dormir para aproveitar mais o tempo.
Pode ser que dançar na chuva seja sinal de um amor frio, ou ver o sol morrer por trás das colinas signifique querer que com ele se vá o amor.
Arrisco também dizer que esperar para amar aos domingos ensolarado seja o mesmo que arremessar pelas janelas do universo as noites de lua cheia, ou ainda, esperar o nascer do sol seja em vão se o dia amanhecer nublado.
Eis que dizer que tudo é motivo pra amar englobe momentos das quais não queremos passar.
Então me resta dizer que devemos amar enquanto há vida e mesmo assim me questiono se não estaria limitando demais o alcance desse tal de amor.
E você, vive o amor? Diga nos como...
LVIII - Impressão Minha?
Estava ali aguardando a minha vez na máquina copiadora quando ela apareceu. Não a conhecia pessoalmente, mas tua antipatia contrastava com tamanha elegância. Não havia um só dos que eu conversava que não dizia que ela era do avesso, azeda, mas quando a via, toda essa coletânea de afirmações era automaticamente negada.
E enquanto ainda ali aguardava, passei a perceber que ela vinha em minha direção. E quanto mais se aproximava, mais gélidas ficavam minhas mãos, mais raízes eu criava ali naquele chão e mais as palavras da minha mente corriam e se escondiam por trás de meu crânio, como se houvesse a caminho um tufão.
Boquiaberto e sem reação, tudo o que eu esperava era finalmente ver por trás de toda aquela elegância o azedume que tantos falavam. Esperei tanto que um lapso de memória tomou um pedaço do meu tempo.
E quando este se foi, ali estava ela retirando uma folha de papel impressa e respondendo com um sorriso por algo que eu havia perguntado sem nem eu saber o que é até hoje:
"- Não é não. Acho que é impressão sua!"
E enquanto ainda ali aguardava, passei a perceber que ela vinha em minha direção. E quanto mais se aproximava, mais gélidas ficavam minhas mãos, mais raízes eu criava ali naquele chão e mais as palavras da minha mente corriam e se escondiam por trás de meu crânio, como se houvesse a caminho um tufão.
Boquiaberto e sem reação, tudo o que eu esperava era finalmente ver por trás de toda aquela elegância o azedume que tantos falavam. Esperei tanto que um lapso de memória tomou um pedaço do meu tempo.
E quando este se foi, ali estava ela retirando uma folha de papel impressa e respondendo com um sorriso por algo que eu havia perguntado sem nem eu saber o que é até hoje:
"- Não é não. Acho que é impressão sua!"
LVII - Photographia
Geava como não se via há anos. Como não havia nada o que fazer, resolvemos fuçar no quartinho das bagunças. É incrível como somos capazes de acumular coisas que nunca mais serão usadas, achando que um dia será útil. Contas pagas de 1990, lata de tinta branca com um finzinho praticamente seco, sacolas plásticas, ferramentas e parafusos.
Eis em meio a tanta desordem, uma máquina fotográfica daquelas de filme estava jogada por lá e como dois curiosos, não podíamos deixar de verificar se funcionava. Fuçamos mais um pouco para encontrar filmes e pilhas também.
E então começou a brincadeira. Tirávamos foto disso ou daquilo, dela e minha, tirávamos fotos do frio, do sorriso, da mão roxa e das plantas congeladas. Tirávamos e tirávamos, ríamos aos montes e nos aquecia. Tirávamos mais e mais, amávamos e tirávamos, e no fim, estávamos somente nós, sós e nus.
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