26 abril, 2006

XIII - Afogado

Mergulhei minha cabeça num tanque de ilusões, prendi o ar de minha realidade até quando não pude mais. Quando resolvi tirar a cabeça de lá e voltar a respirar, não havia mais forças em meus braços.

Afoguei.

18 abril, 2006

XII - Piano

Estava ali sentado na cauda do piano velho de que meu avô havia deixado de herança para a família. No testamento não havia nada mais que um piano e uma casa imensa. Imensa e sem móveis já que por um erro de grafia, advogados e promotores interpretaram dinheiro e bens “supérfluos” como “parte” da doação aos institutos pobres do estado em que eu morava. Malditos democratas que esqueceram que tanto dinheiro dividido entre tantas instituições iria dar tão pouco que mal poderiam comprar mais do que um conjunto de moletom para cada velhote abandonado e crianças órfãs, e de lambuja, criaram mais uma família pobre com um imóvel desvalorizado devido à sua localização, aos impostos dele cobrado e à manutenção que daria para restaurar cada coluna de madeira já corroída pelo tempo.

Agora não importa mais, ali, sentado na cauda daquele piano velho e, agora, desafinado, fechei meus olhos e pude ouvir com delicadeza um conjunto de notas suaves. Notas que traziam até meu rosto a sensação da brisa leve do outono, o barulho das folhas secas que caíram das árvores e se espalharam pelo jardim plano e o cheiro do café forte da vovó misturado com o cheiro dos biscoitos frescos que esfriavam na janela da vizinha. Era como voltar no tempo.

E de repente todo aquele cheiro e aquele som, juntavam-se pouco a pouco com a música do piano e se transformara numa imensa orquestra satisfatória e, com um pouco mais eu já podia voar com um sorriso puro em minha face até que a realidade, que nunca brinca em serviço, me alerta: “Quem está tocando o piano?”.

Não havia ninguém tocando, não havia música, nem desafinada.

16 abril, 2006

XI - Pequena Fada

"Certa manhã eu acordei assustado, minha visão estava turva e eu não sabia onde estava. Mas em alguns instantes percebi que estava bem e havia acabado de sair de um pesadelo, salvo por alguém que tinha metade de seus cabelos vermelhos...

Era uma linda fada."

15 abril, 2006

X - E o Vento? (Última Parte)

Nota do Autor: Esta não é a versão original do final desta história. Não haverá final original devido a problemas técnicos.

Não há mais a quem culpar. Culpar Deus não soluciona, já que ele ainda poderia ser a salvação. Ele nunca é culpado. “Culpa do diabo...” diziam as freiras repetindo 50 vezes o sinal da cruz, numa velocidade de se admirar. Quantas vezes será que elas já não acusaram o pobre demônio?
E quando a esperança já estava quase no fim, a notícia de que um outro ônibus já estava por vir alimentou aquela chama já estava quase apagada. “Quanto tempo demora” perguntam. “Ahhh... com esse trânsito, no mínimo, 50 minutos”.
Foi a gota d´água para o balburdio voltar, mas o motorista que terminava de ensopar o seu lenço com o suor da sua testa tenta acalmar, em vão, dizendo “...pelo menos ele tem ar-condicionado”.
E o vento?... Vento mesmo, só o da daquela velha que preferiu ficar à “sombra” do ônibus soprando um ar por entre sua banguela em direção aos seus peitos murchos.

VII - E o Vento? - Parte I
VII - E o Vento? - Parte II

13 abril, 2006

IX - Toquei Meu Passado

Foi numa noite dessas de “nada pra fazer” que me deparei com o passado mais presente que eu poderia ter visto. Ao mesmo tempo em que foi legal, também foi triste. Saber que o tempo passou e de repente eu mudei muito e sinto a saudade do “antigo eu” e o mesmo tempo que passou não mudou um bocado de gente que continua vivendo uma vida medíocre, reclamando dela, pois sabem que é medíocre mesmo, mas também não fazem nada para tentar “evoluir”. Evolução, eu ainda não sei se é esta a palavra certa, mas foi o que me veio agora. Não creio que eu tenha evoluído, nem sempre mudar procurando o melhor significa evoluir, ou, de repente, significa. Bom, realmente estou confuso. O Mais interessante foi ter visto, na realidade, ali, no físico, o passado.

Pude tocar e falar com meu passado.

- Medíocres. Adorei revê-los.