26 fevereiro, 2009

XXXVIII - De Dentro do Carro

Faz pouco menos de um ano que estou dirigindo oficialmente e já sei duas coisas: a primeira é que eu não sou um bom motorista e a segunda é que a visão das coisas de lá de dentro pode ser um foco de inspiração.

Enfrentar o tráfego tenso dos dias úteis não é tão ruim assim. Música também não relaxa se for música por música. Tudo tem suas ligações e os seus porquês. Foi ali de dentro do carro que reparei que as luzes das prefeituras nunca estão totalmente acesas. Foi de dentro do carro que descobri que quando o vidro misturado com a água da chuva turva a imagem dos monumentos históricos e fazem deles incríveis gárgulas malignas. Foi lá dentro também que descobri que podemos ter inspirações incríveis e que nem todas elas podem ser escritas e acabam perdidas entre a fumaça dos caminhões e os sinais de avanço do semáforo. Enfim, o que sobra é fagulhas de inúmeras idéias que, se juntadas formam, bem ou mal, uma história para contar a alguém.

25 fevereiro, 2009

XXXVII - Chuveiro Quente

Caía “aquela” chuva. Mas tudo ali era culpa do chuveiro quente. É engraçado, basta chover que descobrimos que as buzinas dos carros não servem absolutamente para nada! Estava ali, observando cada luz de freio que acendia e apagava e o barulho ensurdecedor das buzinas não me deixava explicar porque tudo aquilo era culpa do chuveiro quente. E como buzinas não têm nada a ver com chuveiro quente, saquei dos meus protetores auriculares e tapei aquela poluição que me cegava aos poucos.

Agora sim fazia sentido. Se não fosse o chuveiro quente, ninguém iria se importar em tomar chuva e ficar molhado. Aquele trânsito misturado com gente desesperada parecia até um monte de insetos que se chocavam com os vidros dos carros nas auto-estradas. Era uma buzina e um berro... E tudo por culpa do chuveiro quente. Pensem vocês, que se tivessem acostumados a tomar banho gelado, não teriam problema algum em tomar banho de chuva, não é? Chega a ser ridículo. Pois bem, fiquei por ali algum tempo, observando, rindo por dentro até o fim do último cigarro do meu maço. Permaneci por ali, desta vez, emburrado. Afinal, por culpa do chuveiro quente, não pude atravessar a rua pra buscar um maço novo e ali naquele bar que eu estava só tinha cigarro com pulmão podre. Esse eu não compro, já que não sofro de gravidez, só compro o que causa problemas na gestação.