12 julho, 2006

XXII

"A poesia e a música são seivas que escorrem por seus dedos, se misturam com o olhar e se transformam em palavras pintadas que poucos entendem. Pensar é a borracha que apaga o sentido da essência da seiva que ali escorreu."

10 julho, 2006

XXI - Fatalidade. Solidão.

Com um grito no peito, não consigo erguer a cabeça e olhar adiante.
Só consigo ver a paisagem colorida da minha mente.
Não tenho forças para seguir.
Levantar e lutar não está a meu alcance.
Do meu olho direito cai uma lágrima,
A lágrima que sela meu segredo,
Que prova o quão preto e branco uma imagem pode ser.
Estou cansada.
Sento-me e começo a desenhar traços grossos e úmidos, rabiscos feitos somente com emoção, sem nenhum significado aparente.
Sinto-me dependente de algo que me machuca, que me mata aos poucos. Já nem sei a quanto tempo estou morrendo.
Vivo o último suspiro, não sei por quanto tempo meu coração agüentara bater.
Meu coração está descompassado. Refletindo os descompassos dos meus atos, pensamentos e desejos.
Acho que agora encontrei a recuperação que precisava, aquela que me libertará dos meus vícios e me fará nascer.
Finalmente tomo força e coragem para soltar meu grito. Mas percebo que estou só, que ninguém me escuta.
Meu coração acelera. Não sinto nada. Dou meu ultimo suspiro e caio sobre as fotos espalhadas pelo carpete lilás.
Morro.

Por Carla Marco de Carvalho

08 julho, 2006

XX - O Alfaiate - (Parte III)

Na quarta-feira estava nos jornais e nas revistas diárias, estava na internet e na boca da população. As senhoras que lavavam o quintal sabiam de cor e salteado sobre o acontecido. Os telefones não paravam de tocar e os e-mail de corrente já haviam começado a entupir inúmeras caixas postais.

“Menina salva por alfaiate em pleno domingo passa bem e não corre risco”

A notícia falava de um heróico alfaiate, que aceitara se deslocar de sua moradia e doar seu sangue para uma menina que sofrera uma cirurgia demorada e que, por uma falha de logística e surpresa do hospital, descobriu que não havia mais sangue do tipo necessário no “estoque”. E se tratava justamente do tipo raro.

Eu reconhecera aquele alfaiate e reconhecera a mulher da foto. Incrível. Até eu me comovi. Não se sabe como aquela mulher descobrira do sangue daquele homem. Não se sabe como tudo de fato aconteceu, nem se tudo fora tão simples como a que a notícia passa.

Também não sei dizer se ela chegara a ele graças a mim ou ao destino, ou se chegara lá pela sua persistência ou pela sua fé. Só sei que, se qualquer vírgula faltasse aqui, todo o rumo desta história seria mudado.

05 julho, 2006

XIX - O Alfaiate - (Parte II)

Naquele dia, após isso tudo, nada mais aconteceu de incomum. Isso ao meu ponto de vista. Perante a minha realidade, não se passou de “um detalhe que fizera meu dia diferente”.

Alguém já ouviu falar da Teoria do Caos? Aquela história de que o esvoaçar de uma borboleta pode causar um furacão do outro lado do continente, ou algo que o valha.

Pois então, mal sabia eu que, naquele dia, aquele ato fora o “bater da asa” que fez a diferença.

Há três semanas atrás, aquela moça acompanhava o Albertinho, noivo por sete anos, que finalmente resolveu se casar. Só esperou o “momento certo”, que sem mais porquês e também nem tem importância, achara que já era hora.

02 julho, 2006

XVIII - O Alfaiate - (Parte I)

- Moço, você sabe onde tem um alfaiate aqui perto?
- Xi, Não sei não senhora. Eu não moro por aqui, estou indo na casa da minha namorada e... Infelizmente não sei.
- Tá bom, obrigada.

E esse foi meu primeiro diálogo do dia em plena dez horas da manhã de um domingo de sol murcho. A mulher e o filho que aparentava lá uns quatorze anos de idade continuaram seguindo na mesma rua, olhando de casa em casa na esperança de que alguma placa mágica aparecesse com os dizeres: “Aqui mora o alfaiate”.

Mesmo assim me senti incomodado em ver aqueles dois perdidos e antes de entrar na casa da minha menina, resolvi perguntar:

- Alice, aqui mora algum alfaiate?
- Mora sim. Lá em baixo, perto do mercadinho. Por quê?
- Uma senhora com o filho estavam procurando ele. Vou avisar, pois eles já estão lá pra cima.

Voltei meus olhos para os dois, como se estimasse a distância que já estavam de mim e chamei-os com voz alta e agitando os braços para que voltassem.

- Moça, o alfaiate que vocês procuram mora ao lado do estacionamento do mercado, lá em baixo.
- Ai moço, obrigada. Obrigada.