Havia uma orquestra montada naquela vitrine. Instrumentos de cordas, sopro, metais, percussão, assim como deveria ser. Havia também uma gaita, dizia ser uma gaita em Dó. Lembrei-me de quando era criança e havia ganhado uma desses de Natal. Passei por ali por alguns momentos observando-a, vermelha e intensa, e esquecendo-me da fome, comprei a gaita.
Se arrependimento matasse, eu iria morrer, mas primeiro de fome. Ao fim do dia já não tinha força para nada e então arrumei alguns pedaços de papelão para montar a casinha daquela noite e já que a dor de estômago não me deixava dormir, resolvi finalmente dar o primeiro sopro em meu novo companheiro.
O som misturado com o sentimento improvisava um som que fazia minha fome ir embora e também trazia à minha mente uma ideia interessante. No dia seguinte, sentei-me no centro da praça daquela pacata vila e coloquei-me a tocar. As músicas improvisavam sorrisos aos que passavam e traziam moedas ao caneco que coloquei ali por perto.
E se a música move sentimentos, move a mim também. Foi assim que paguei pelo meu almoço antes de continuar minha jornada para lugar algum.
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