24 agosto, 2015

LXII - Trevo de Quatro Folhas: A Gaita

Sorte! Após várias semanas caminhando sem destino e sem local para dormir, achei uma nota alta. Um simples papel que viera a calhar, afinal não comia bem há muito. Vislumbrado o dinheiro e caminhando, me deparei com uma enorme vitrine de instrumentos musicais.

Havia uma orquestra montada naquela vitrine. Instrumentos de cordas, sopro, metais, percussão, assim como deveria ser. Havia também uma gaita, dizia ser uma gaita em Dó. Lembrei-me de quando era criança e havia ganhado uma desses de Natal. Passei por ali por alguns momentos observando-a, vermelha e intensa, e esquecendo-me da fome, comprei a gaita.

Se arrependimento matasse, eu iria morrer, mas primeiro de fome. Ao fim do dia já não tinha força para nada e então arrumei alguns pedaços de papelão para montar a casinha daquela noite e já que a dor de estômago não me deixava dormir, resolvi finalmente dar o primeiro sopro em meu novo companheiro.

O som misturado com o sentimento improvisava um som que fazia minha fome ir embora e também trazia à minha mente uma ideia interessante. No dia seguinte, sentei-me no centro da praça daquela pacata vila e coloquei-me a tocar. As músicas improvisavam sorrisos aos que passavam e traziam moedas ao caneco que coloquei ali por perto.

E se a música move sentimentos, move a mim também. Foi assim que paguei pelo meu almoço antes de continuar minha jornada para lugar algum. 

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