27 junho, 2006

XVII - Antes da Chuva

Voltando pra casa, fugindo da chuva, sério e inexpressivo, comecei e pensar onde foi parar aquele meu espírito agradável que ria de qualquer bobagem. Alguns condenavam e me achavam infantil quando agia dessa maneira, mas e agora, faço eu parte dessa massa?

Nesse mesmo caminho, duas senhoras riam sozinhas do outro lado da rua, enquanto brigavam de brincadeira com o vento que dobrava o guarda-chuva delas para cima e a faziam se molhar.

Na mesma calçada que eu, o mesmo vento se divertia com duas garotinhas que recebia as gotículas geladas que ele fazia cair das folhas da árvore encharcada. Elas riam como se fosse algo mágico e único, embora seus pais esbravejassem quaisquer bobagens sobre a atitude desse menino.

E tudo ao mesmo tempo. Nesse mesmo tempo, o mendigo tentava fazer um pouco de fogo debaixo da carroça de carregar papelão, e se eu fosse ele, ficaria irritadíssimo com cada sopro que o vento dava pra apagar meu fogo. Vento Maldito!

Enquanto tudo isso acontecia, eu fugia. Já não sei mais porque eu fugia de fato. Mas estava assustado e injuriado, o vento também resolveu me perturbar. Soprava a garoa fina bem na direção do meu rosto. Ah! Como eu estava odiando!

E antes que essa viagem de cinco minutos terminasse, uma bicicleta desgovernada quase me atropelou! “Olha para onde anda com essa porra!” - eu quis reclamar. Mas logo me coloquei a rir ao ver que eu quase fora atropelado por uma velha amiga. Quanto tempo não a via.

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